A cada ano, cerca de 7,6 milhões de mortes, 14% do total mundial, são atribuídas
à hipertensão não controlada. Cerca de 80% dessas mortes ocorrem em países de baixo
e médio desenvolvimento econômico e mais da metade em indivíduos entre 45 e 69 anos.
No Brasil, a hipertensão afeta mais de 30% dos adultos. Cerca de 315 mil óbitos
ocorrem anualmente por doenças cardiovasculares, dos quais mais da metade estão
relacionados à hipertensão, com destaque para os derrames e infartos. Além disso,
a hipertensão é, em nosso meio, a principal causa de doença renal crônica, que ocasiona
mais de 10 mil óbitos anuais no país e a inclusão de 95 mil pessoas em programas
de diálise ou filas de transplante.
A hipertensão é, na maioria de seus portadores, assintomática. Por não apresentar
sinais ou sintomas da doença, poucos são os que fazem tratamento regular. Os percentuais
de adesão ao tratamento situam-se em torno de 10 a 20% da população brasileira afetada.
Levantamentos recentes revelam que, mesmo em consultórios médicos privados, o controle
não atinge sequer a metade dos hipertensos ali atendidos e que menos da metade segue
o tratamento por mais de um ano. Se não tratada adequadamente, a hipertensão pode
reduzir em cerca de 16,5 anos a expectativa de vida. Nos casos não fatais, ressalta-se
a perda da qualidade de vida dos sobreviventes de derrames e infartos, quase sempre
sequelados.
Se poucos aderem ao tratamento com remédios, resta uma opção atraente que é adequação
do estilo de vida, capaz de controlar um grande percentual de hipertensos sem medicamentos.
Mesmo uma modesta perda do peso corporal está associada a reduções na pressão. Além
disso, manter o peso normal (índice de massa corporal inferior a 25 Kg/m²) previne
em 40% o desenvolvimento de hipertensão. Dietas ricas em frutas, hortaliças, fibras,
minerais e laticínios, com baixos teores de gordura, nos estilos DASH (Dietary Approaches
to Stop Hypertension) e mediterrânea podem operar milagres no controle pressórico.
Embora seja de conhecimento geral que o sal eleve a pressão, o seu consumo é cada
vez maior em função do crescente consumo de alimentos e temperos industrializados.
A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo diário de não mais que 5 g de
sal, que corresponde a 2 g de sódio. O consumo médio do brasileiro é de mais que
o dobro do recomendado.
Muitos nutrientes têm revelado propriedades anti-hipertensivas, tais como: alicina
(presente no alho, alho poró, cebola e cebolinha), betaglucano (presente na aveia),
a substituição de parte da proteína alimentar por um composto de soja ou a troca
de gorduras saturadas e alimentos ricos em gordura animal por peixes, oleaginosas
(castanhas), azeite de oliva e óleos vegetais. O consumo diário de dois ou mais
copos de leite ou porções de laticínios magros correlacionou-se a menor incidência
de hipertensão, provavelmente devido ao aporte de cálcio. A vitamina D obtida pelo
consumo de peixes e pela exposição ao sol também é uma importante aliada. Os polifenois
contidos no chocolate amargo, maça, uva, cebola, café e nos chás preto e verde têm
potencias propriedades vasoativas, aumentado a liberação de óxido nítrico, um potente
vasodilatador produzido nas artérias.
Pequenas doses de bebidas alcoólicas, 15 a 30 gramas de etanol, podem fazer parte
do cardápio do hipertenso. Essa quantidade corresponde a 2 latas de cerveja, 2 doses
de destilados ou 2 taças pequenas de vinho, para homens, utilizados de forma não
diária, sendo recomendada a metade dessas quantidades para mulheres.
A atividade física regular, de pelos menos 30 minutos diários, promove vasodilatação
sustentada e eficaz redução da pressão. Técnicas de relaxamento, incluindo yoga,
biofeedback e principalmente a respiração lenta têm comprovado significativos efeitos
anti-hipertensivos. Finalmente, a correção da apnéia do sono, por meio de equipamentos
de auxílio respiratório noturno, reduz a pressão de pessoas com esse distúrbio comum.
Marcus Vinícius Bolívar Malachias
Presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia