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  • O que é hipertensão secundária?

    No Brasil, assim como em outros países, 30% da população adulta têm hipertensão. Está presente naqueles que fumam e bebem, que têm diabetes, são obesos e ingerem sal em excesso, são sedentários e tantas outras co-morbidades. Por isso, o hipertenso é candidato a doenças do tipo infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, perda do funcionamento dos rins, rompimento ou entupimento dos grandes vasos do corpo.

    Infelizmente hipertensão arterial não é doença que habitualmente produza sintomas, daí ser difícil convencer alguém a tomar remédio se nada sente. Tem mais, o velho chavão, “eu aprendi a viver como uma pressão alta e como até hoje não senti nada por que devo me tratar?”. O tratamento correto é fundamental quando queremos aumentar a vida útil dos nossos pacientes. Infelizmente estamos falando de uma doença que, além de não trazer sintomas, não tem cura e com um agravante, medidas inadequadas de estilo de vida aumentam as chances de fazer alguém que até então tinha pressão normal, tornar-se hipertenso.

    Entre 90% a 95% dos hipertensos têm hipertensão primária, isto é, não podemos identificar qual ou quais são os motivos que levaram alguém tornar-se hipertenso, mas sabemos que por meio de várias classes de medicamentos podemos bloquear várias vias responsáveis pela doença. Entre 5% e 10% está a população na qual identificamos uma causa, o que pode permitir o tratamento definitivo. São as chamadas causas secundárias da hipertensão arterial.

    Entre as mais freqüentes e de mais fácil tratamento está o alcoolismo no homem e o anticoncepcional nas mulheres. Além disso, apnéia do sono, cujo forte elo é com a obesidade, e o uso de drogas ilícitas são condições capazes de promover hipertensão.

    As doenças renais, aquelas que promovem obstrução dos vasos que levam sangue aos rins e obstrução da aorta são causas de hipertensão secundária. Medidas preventivas contra a agressão aos rins, minimizar as possibilidades de doença aterosclerótica e desobstruir a aorta são passos importantes para o controle da pressão arterial.

    Doenças que acometem a suprarrenal e outras glândulas como tireóide e hipófise são capazes de promover retenção de líquidos e estreitamento das artérias e com isso provocar hipertensão.

    Finalmente o uso de medicamentos, como os antiinflamatórios, promove aumento na pressão arterial.

    Hoje dispomos de vários exames para a identificação das mais diferentes causas de hipertensão, mas nem sempre isto significa a cura. Assim, quando o tratamento da causa não controla os níveis de pressão arterial, lançamos mão dos anti-hipertensivos, pois o que realmente desejamos é diminuir a morbidade e mortalidade de origem cardiovascular dos portadores de hipertensão arterial.

    Flávio Antônio de Oliveira Borelli Médico Assistente da Seção de Hipertensão Arterial e Nefrologia do Instituto “DANTE PAZZANESE” de Cardiologia, São Paulo, SP. Doutorando em Cardiologia USP/DANTE PAZZANESE.

    Presidente do Congresso de Hipertensão Arterial do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010.

  • Hipertensão arterial é uma doença que tem cura?

    A hipertensão arterial é uma doença que se caracteriza por um aumento da resistência dos vasos sanguíneos ao fluxo de sangue gerado pelo batimento cardíaco. Assim, o coração precisa utilizar maior força para enfrentar essa resistência e, em consequência, a pressão nos vasos fica maior. É uma doença crônica que não tem cura na maioria dos casos, mas tem controle, isto é, com o uso correto das medicações prescritas pelo médico e hábitos de vida saudáveis, é possível diminuir a resistência dos vasos e com isso manter a pressão em níveis normais. Assim, evita-se a ocorrência de infarto do miocárdio e derrame cerebral. Alguns casos de hipertensão podem ter cura, isto é, o paciente pode deixar de tomar medicação quando uma causa é eliminada. Dentre essas causas, que podem ocorrer em 10% dos hipertensos, temos estreitamento da artéria dos rins, tumores da glândula suprarrenal, obesidade mórbida e apneia do sono.

    Luiz Aparecido Bortolotto

    Médico Assistente da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clinicas da FMUSP.

    Professor Livre-Docente do Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP Pós-doutorado em Hipertensão Arterial e Alterações Arteriais na Universidade de Paris V.

  • Se meus pais ou irmãos são hipertensos, eu também serei?

    O aumento da pressão arterial ao longo da vida é um problema que pode aumentar as chances de os indivíduos apresentarem, principalmente, problemas cardíacos, cerebrais e renais. Todos eles relacionados a problemas em nossas artérias.

    Pensemos no nosso corpo como um edifício e que nossas artérias são os encanamentos do prédio. Nosso 'sistema hidráulico' não gosta de trabalhar com pressões mais altas. Caso isso aconteça por um período prolongado, nosso encanamento, ou seja, nossas artérias ficarão doentes. Por essa razão é que os hipertensos têm mais chances de desenvolver problemas de saúde ao longo do tempo.

    Mas, por que algumas pessoas aumentam a pressão ao longo da vida? Na grande maioria das vezes não podemos encontrar apenas uma explicação. Além da idade, vários fatores relacionados ao organismo de cada um e a fatores do meio ambiente, principalmente a alimentação, vão determinar se uma pessoa irá ou não ficar com a pressão mais alta. Aspectos genéticos determinarão como cada um desses fatores irá influenciar no aumento da pressão. Se nossos familiares mais próximos são hipertensos, não necessariamente seremos hipertensos, mas isso aumenta a nossa chance. Portanto, diante de uma história de hipertensão na família, cabe a nós um cuidado especial nos outros fatores que podem influenciar o aumento da pressão ao longo da vida.

    Miguel Gus Cardiologista Clínico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

  • Por que os idosos e diabéticos têm mais variação de pressão?

    Tanto idosos como diabéticos apresentam uma perda do controle pressórico por desgaste dos nervos ao longo da vida, no caso dos idosos, e por falha de nutrição da inervação dos vasos sanguíneos e dos centros nervosos de regulação da pressão arterial, no caso dos diabéticos. Expliquemos melhor.

    O controle da pressão arterial se faz por mecanismos diversos, um dos quais é denominado sistema nervoso simpático. Esse sistema ajusta a pressão arterial por meio de estímulos pelos nervos que inervam os vasos sanguíneos, gerando aumento ou redução da pressão arterial. Com a idade, existe um desgaste natural dessa inervação, por exemplo, como ocorre numa fiação dentro de uma parede ao longo do tempo. Esse desgaste promove uma transmissão errada dos estímulos, gerando uma interpretação diferente do real, com mais variações dos valores de pressão.

    Da mesma forma, em diabéticos, ocorre esse desgaste da “fiação”, porém por um mecanismo diferente, uma redução da nutrição dos nervos pela obstrução dos pequenos vasos que levam nutrientes a esses; assim, com essa interpretação errada, ocorrem variações da pressão arterial, podendo ocorrer tanto elevações como quedas importantes, gerando sintomas como: desmaios, tonturas, perda parcial ou total da visão, palpitações, dor de cabeça, entre outros.

    Márcio Gonçalves de Sousa Cardiologista Assistente da Seção de Hipertensão Arterial e Nefrologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

    Mestre em Clínica Médica – Unicamp.

    Doutorando em Cardiologia – Incor – FMUSP .

  • Por que algumas pessoas precisam usar mais de um medicamento ao dia para hipertensão?

    A hipertensão arterial, popularmente chamada de “pressão alta”, é um dos problemas de saúde mais presentes na nossa população. Aproximadamente um em cada quatro brasileiros com mais de 18 anos apresenta níveis de pressão arterial acima de 14 por 9. As pessoas que apresentam sua pressão acima desses valores estão correndo um risco maior de sofrer ataques cardíacos, derrames cerebrais e problemas nos rins, que, com o passar dos anos, podem ter como consequência a necessidade de hemodiálise. Felizmente hoje em dia temos à disposição vários remédios que sozinhos ou em conjunto conseguem, na grande maioria dos casos, um ótimo controle da pressão alta e, consequentemente, diminuem o risco de acontecerem as complicações que descrevemos. O grande problema é que a maior parte das pessoas não sabe que tem pressão alta, pois nunca mede a sua pressão, já que é uma doença silenciosa, ou seja, normalmente não apresenta sinais de alerta. Quando esses sinais aparecem o indivíduo já está com algum órgão do corpo doente, geralmente com sequelas irrecuperáveis, levando a um grande prejuízo na sua qualidade de vida. Sabemos que as pessoas que já tiveram um derrame cerebral, infarto no coração, problemas nos rins ou que têm diabete (açúcar alto no sangue) devem ter uma pressão por volta de 12 por 8, nem que para isso tenham que tomar vários remédios, pois estão sob maior risco de morrer. Para aquelas que nunca tiveram as complicações referidas, buscamos uma pressão abaixo de 14 por 9, nível esse que também muitas vezes só se consegue alcançar com mais de um medicamento. Vale lembrar que algumas atitudes saudáveis podem ajudar os medicamentos a alcançar os alvos de pressão desejados. A perda de peso, os exercícios físicos regulares, a diminuição do sal, uma dieta rica em frutas e verduras e a redução da ingestão de bebidas alcoólicas são medidas que têm a capacidade de diminuir, em maior ou menor grau, a pressão e a quantidade de comprimidos necessários para o adequado controle da hipertensão arterial.

    Mário Wiehe Doutor em Cardiologia – UFRGS.

    Preceptor do Ambulatório de Hipertensão do Hospital de Clínicas – UFRGS.

    Chefe da UTI Cardiovascular do Hospital São Lucas da PUC-RS.

  • Por que a hipertensão causa demência?

    Inicialmente devemos ter consciência de que o portador de hipertensão arterial não alcança a cura de sua doença, porém, sim, o controle, através de disciplina na observância da mudança no seu estilo de vida e na tomada contínua do seu medicamento hipotensor. Dessa maneira o hipertenso, conforme vários estudos têm comprovado, reduzirá as complicações causadas pela hipertensão principalmente nos órgãos alvo, como o coração, os rins e o cérebro.

    O objetivo do tratamento é permitir ao paciente ter uma vida normal, a fim de minimizar o risco cardiovascular, propiciando um aumento na duração da vida, bem como em sua qualidade.

    Uma das complicações da hipertensão arterial em nível cerebral é o da demência, que constitui a deterioração progressiva e irreversível das funções intelectuais, resultante de lesões cerebrais. No quadro demencial a função cognitiva que mais precocemente começa a se manifestar é a da memória. Os quadros de hipertensão sistólica, diastólica, da pressão de pulso e em especial o da hipertensão sistólica isolada têm forte preditor como agente causal de doença aterosclerótica difusa em pequenas artérias cerebrais que pode levar à atrofia mesangial temporal, demência vascular e à doença de Alzheimer.

    Esse processo costuma ter essa evolução principalmente naqueles hipertensos que, desde sua meia idade, por volta dos 40 e 50 anos de idade, não conseguem um bom controle em seus níveis da pressão arterial, trazendo-a para 120/80 mmHg.

    Outra condição fortemente correlacionada a lesões cerebrais é a dos pacientes hipertensos que perdem sua capacidade de ter uma queda noturna fisiológica da sua pressão arterial, persistindo assim com valores elevados no período do sono, podendo dessa forma evoluir para quadros de demências, quer seja da forma vascular, quer a de Alzheimer.

    Antônio Travessa
    Médico Cardiologista.

    Ex-presidente da Sociedade Paraense de Cardiologia.

  • Qual a melhor hora de tomar os remédios para a hipertensão arterial?

    A adesão ao tratamento, isto é, tomar os remédios de acordo com a prescrição é um dos fatores determinantes para o controle da hipertensão arterial. A falta de adesão é uma das principais causas de falha no tratamento e também da pseudo hipertensão resistente.

    Cada classe de medicamento anti-hipertensivo tem um mecanismo de ação diferente e cada fármaco apresenta um diferente período de ação no organismo (concentração da droga no sangue), o que é chamado de meia-vida. Esses fatores é que determinarão a quantidade de vezes que o medicamento deverá ser tomado durante o dia. Outro aspecto importante diz respeito ao estilo de vida do paciente. A forma de prescrição do medicamento deve ser adequada com a rotina do paciente, a fim de que ele se adapte mais facilmente e assim consiga tomar os remédios na hora certa, conforme a prescrição.

    As seguintes orientações gerais podem ser dadas:

    1. Os medicamentos diuréticos devem ser tomados uma vez ao dia e pela manhã. Exemplo: hidroclorotiazida, clortalidona, amilorida.

    2. Alguns medicamentos com meia-vida mais curta devem ser tomados pelo menos 3 vezes por dia (8 em 8 horas). Exemplo: propranolol, captopril, hidralazina.

    3. Medicamentos de meia-vida maior podem ser tomados de uma a duas vezes por dia; porém, mesmo esses conseguem um controle pressórico maior quando a dose diária é dividida em duas tomadas. Exemplo: enalapril, anlodipina.

    4. Se tomado antes da alimentação, a absorção do medicamento é maior.

    5. Não se deve suspender ou deixar de tomar a medicação se a pessoa for ingerir bebida alcoólica naquele dia.

    6. O tratamento com remédios deve ser acompanhado por medidas não farmacológicas, isto é, medidas que fazem parte do tratamento, mas não estão associadas ao fato de se tomar um remédio, tais como: redução do sal na dieta, exercícios físicos, redução de peso, deixar de fumar etc.

    Deve-se lembrar que o tratamento da hipertensão arterial é para toda a vida e que ele evita complicações graves, como o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.

    Yoná Afonso Francisco
    Médica assistente da Disciplina de Cardiologia da Unifesp.

  • Nervosismo aumenta pressão arterial?

    É bastante comum atendermos pacientes com esse tipo de dúvida. Eles nos procuram reclamando que a pressão está oscilando muito, especialmente em situações de estresses emocionais ligados a problemas de trabalho e, mais comumente, a desavenças familiares.

    Em primeiro lugar, é bom esclarecer que a pressão não pode ser entendida como um número fixo, nem o 12 x 8 que a nossa campanha preconiza. Quando falamos nesse número mágico desejamos falar numa pressão média que deve ser perseguida como uma meta ideal. O coração bate em média 80 mil vezes por dia e nunca com a mesma pressão em batimentos sucessivos.

    Então é bom que o paciente tenha informações sobre essa característica da pressão denominada de variabilidade. Essa variabilidade, que é um fenômeno totalmente normal (costumo dizer aos meus pacientes que a pressão só não varia numa situação – é quando estamos definitivamente mortos –, porque nesse caso ela será ZERO), sempre estará aumentada em situações de estresse (mesmo em situações de estresse positivo – uma boa notícia).

    O problema é que nessas situações muitas vezes somos convidados a medir a pressão arterial. Assim descobrimos que a nossa pressão está um pouco (ou mesmo muito) acima dos valores habituais. Por esse motivo, procuramos uma emergência e lá a pressão vai estar ainda mais alta, porque é um local impróprio para uma medição adequada da pressão arterial.

    Então, respondendo à pergunta se situações de estresse aumentam a pressão arterial, a resposta é SIM. O que devemos entender é que em pessoas que possuem comportamento da pressão sempre normal, ou abaixo da média, esse aumento de pressão arterial não deve ser valorizado, porque logo haverá um retorno aos valores normais sem necessitar de nenhum apoio medicamentoso.

    Marco Mota
    Médico cardiologista e Professor Titular de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Uncisal (Maceió – Alagoas).

  • Estresse pode aumentar a pressão arterial?

    O estresse é definido como um processo patológico resultante de uma resposta corporal a fatores externos que resultam em uma modificação de seu equilíbrio. Uma dessas modificações corporais está relacionada à pressão arterial, que pode subir quando o individuo é submetido a fatores externos, que o levam a ter medo, angústia e raiva.

    Essa modificação na pressão arterial é produzida por estimulação do sistema nervoso, que produz substâncias que são liberadas pelo organismo, quando este é submetido a esses fatores externos para que possa lutar ou fugir, ou seja, tenha capacidade de reagir a esses estímulos nocivos, defendendo-se. Essas substâncias, a adrenalina e a noradrenalina, aumentam a pressão arterial de forma aguda e, quando liberadas pelo organismo com uma frequência muito alta, podem fazer com que algumas pessoas tornem-se hipertensas ao longo do tempo.

    Essa hipótese do estresse crônico provocando hipertensão arterial é chamada de teoria da reatividade. Ela sugere que pessoas que apresentam uma resposta exagerada ao estresse têm um risco maior de desenvolver hipertensão arterial e doenças cardiovasculares com o passar dos anos.

    Por esse motivo, na prevenção e no tratamento da hipertensão arterial uma das metas propostas por todos os profissionais de saúde é a mudança no estilo de vida, que inclui o exercício físico regular. Este tem um efeito importante na modulação do sistema nervoso e, por isso, um efeito anti-estresse, ajudando a prevenir e a tratar a hipertensão arterial.

    Armando da Rocha Nogueira
    Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica do HUCFF-UFRJ

    Diretor Financeiro do Departamento de Hipertensão da SBC

  • Por que a hipertensão causa envelhecimento precoce?

    O nosso coração é como uma bomba de água, que tem de trabalhar com uma força adequada para gerar uma pressão também adequada. Se a bomba trabalhar forçada, gerará uma pressão inadequada e precocemente se deteriorará, levando também à deterioração toda a canalização.

    A bomba que é o nosso coração depende de vários fatores para funcionar adequadamente, para manter um fluxo de sangue com uma pressão adequada para todo o nosso organismo. Pois, se assim não for, também precocemente se deteriorará e, consequentemente, todo o sistema arterial que supre o nosso organismo, desde o cérebro até as extremidades dos membros inferiores. Ocasionando, portanto, alterações precoces no cérebro, como os derrames, nos olhos, como cegueira, no coração, levando ao infarto, angina, arritmias, nos rins, levando a insuficiência renal, e nos membros inferiores, levando a alterações circulatórias.

    Portanto, pressão arterial 12 por 8 durante a vida é um objetivo que todos os hipertensos devem atingir para que o envelhecimento precoce não ocorra.

    Margareth Assad Cavalcante

    Docente responsável pela disciplina de Cardiologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade do Oeste Paulista – Unoeste – Presidente Prudente – SP

    Coordenadora do curso de Especialização em Cardiologia da Universidade do Oeste Paulista. – Presidente Prudente – SP

    Vice-presidente da Regional Socesp de Presidente Prudente – SP

  • Devo medir a pressão arterial em casa com equipamentos eletrônicos?

    Sim, e preferencialmente com equipamentos eletrônicos, salvo se a pessoa que for realizar as medidas seja um profissional de saúde habilitado a realizar as medidas com o uso de estetoscópio. Então, de modo geral a medida domiciliar deve ser realizada com equipamento eletrônico (desde que calibrado e validado), visto que a realização é bastante simples. Essas medidas devem ser anotadas e entregues ao seu médico assistente para interpretação. Não diminua ou aumente a dose da sua medicação baseando-se nessas medidas. Apenas seu médico saberá interpretar corretamente e ajustar sua medicação conforme o seu quadro clínico.

    Audes Feitosa

    Título de Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB

    Coordenador do Departamento de Hipertensão do RealCor

    Cardiologista do Procape/Universidade de Pernambuco

  • Por que há tantas diferenças no custo de medicamentos para o controle da hipertensão?

    A hipertensão arterial é uma doença muito antiga, na maioria das vezes sem causa aparente, e somente existe graças a um caráter genético; portanto, chamamos de hipertensão primária. Isso significa que não tem cura, mas tem tratamento, que na maioria das vezes aliamos às medidas não farmacológicas, tais como perda de peso, parar de fumar, diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e reduzir a quantidade de sal na alimentação. Muitas vezes, quando tomamos todos esses cuidados, mas a pressão arterial não reduz o suficiente para atingir os valores ideais, necessitamos da introdução de medicamentos anti-hipertensivos, isto é, aqueles que podem abaixar a pressão arterial.

    A comunidade cientifica nacional e internacional tentam, ao longo dos anos, desenvolver o medicamento ideal para este tratamento, o qual aliaria baixo custo, poucos efeitos colaterais, dose única diária, efeito duradouro nas 24 horas do dia e também proteger o coração, rins, cérebro e outros órgãos afetados pela hipertensão.

    Quando a indústria farmacêutica lança um medicamento no mercado, ele passa por várias fases da pesquisa, desde teste em laboratório de pesquisa animal, pesquisa em pequenos grupos de pessoas voluntárias, para depois aumentar a quantidade de pessoas a tomar o medicamento nessa terceira fase, e finalmente ser usado em grande escala mundial. Isso gera grande investimento e tempo para desenvolver tal experimento, que pode levar até 10 anos para a conclusão.

    Para cobrir esses custos de investimento, muitos países permitem a patente do produto por 5 ou 10 anos, e somente depois desse período é aprovada a liberação para fabricação de similares e genéricos. Provavelmente aí esteja uma das respostas para a grande diferença dos custos de medicamentos em todo o mundo.

    Outra resposta para a diferença está na concorrência de mercado existente no mundo capitalista, no qual os medicamentos mais antigos e com diferentes marcas à venda no mercado geralmente têm menor preço final ao consumidor. Há medicamentos mais baratos para o tratamento de hipertensão, como os diuréticos, beta bloqueadores e vasodilatores diretos, desenvolvidos há muitos anos, mas que muitas vezes perdem em eficiência para medicamentos mais atuais, assim como oferecem menor proteção aos outros órgãos afetados pela doença.

    Devemos realçar que não podemos, no tratamento da hipertensão, pensar somente no custo, mas sim controlar efetivamente a pressão e também minimizar seus efeitos deletérios no organismo ao longo dos anos.

    José Luís Aziz

    Doutor em Cardiologia pelo Incor – FMUSP

    Chefe da Geriatria da FMABC

    Professor responsável pela Cardiologia do Centro Universitário São Camilo

  • Por que sou hipertenso?

    Porque minha pressão arterial foi verificada várias vezes, de forma correta, com aparelhos calibrados e por profissional capacitado. E estava maior ou igual a 140/90 mmHg ou (14 por 9). Lembro sempre que estarei com menor risco de ter um evento cardiovascular (infarto ou derrame) quando minha pressão estiver abaixo de 120/80 mmHg (12 por 8).

    Carlos Alberto Machado

    Coordenador da Liga de Hipertensão Arterial do Belém – SP do Ambulatório Médico de Especialidades Maria Zélia / Disciplina de Cardiologia / Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo

  • Por que é importante ter a hipertensão controlada?

    A hipertensão arterial é uma doença que acomete uma porcentagem bastante elevada da população brasileira.

    Sabe-se que aproximadamente de 20% a 30% dos brasileiros com mais de 18 anos de idade são portadores de hipertensão arterial, variando de acordo com a região e com a amostra estudada.

    Na maioria dos casos, a hipertensão não apresenta sintomas, o que torna ainda mais difícil seu diagnóstico e tratamento.

    Dentre todos os indivíduos hipertensos, apenas um pequeno número sabe que tem a doença, e um número ainda menor faz tratamento e tem sua pressão arterial controlada.

    Embora a hipertensão não apresente sintomas, quando não está controlada acarreta risco elevado para doenças cardiovasculares, aumentando assim a possibilidade de morte e invalidez.

    Quando a hipertensão encontra-se sem tratamento adequado ou quando seus níveis não se encontram dentro das metas, com o passar do tempo outros órgãos começam a ser afetados.

    Pode haver aumento da espessura do músculo do coração (miocárdio), levando ao que se chama de hipertrofia do ventrículo esquerdo; o paciente hipertenso pode ter como complicações doença das artérias coronárias, podendo levar à isquemia miocárdica, com maior risco de infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca, que é quando o coração aumenta de tamanho e se torna insuficiente para atender às necessidades do organismo.

    Outras complicações extremamente graves da hipertensão não controlada são as doenças cerebrovasculares, que ocorrem quando os níveis da pressão se elevam acima de níveis considerados normais. As consequências do acometimento dos vasos sanguíneos cerebrais são o acidente vascular cerebral ou “derrame”, que pode levar à morte ou incapacidade temporária ou definitiva.

    Os rins também são afetados pela hipertensão não controlada, levando o individuo a uma alteração na função renal, aumentando o risco para diálise e transplante renal, devido à falência desses órgãos.

    Essas são algumas das complicações que a hipertensão não controlada causa aos pacientes, sendo obrigatório o controle rigoroso da hipertensão arterial para que os indivíduos hipertensos possam ter uma vida praticamente normal e livre de complicações.

    Carlos Alberto Cyrillo Sellera

    Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB

    Mestrado pela Unifesp/EPM

    Chefe do Serviço de Cardiologia da Santa Casa de Santos

  • Chá e café fazem mal para o coração?

    O consumo de café é um hábito bastante difundido na sociedade ocidental. Nos Estados Unidos da América mais de 50% dos indivíduos acima de 10 anos consomem café. O café consumido possui componentes com função biológica, que pode diferir de acordo com o modo de preparo da bebida. Seus grãos possuem substâncias, denominadas “cafestol” e “kahweol”, que elevam os níveis de colesterol, especialmente quando no preparo da bebida não é utilizado filtro (café expresso, turco, escandinavo ou mocha). Além disso, o consumo de mais de cinco xícaras de café pode aumentar discretamente a pressão arterial. Esse efeito é atribuído à cafeína, sendo observado especialmente em quem não consome café regularmente. No entanto, é descrito que o consumo crônico de café diminui casos novos de diabetes e leva à discreta perda de peso. Consumir café com moderação ao longo da vida parece associar-se com proteção cardiovascular. O café contém ainda uma série de substâncias com propriedades antioxidantes, os “polifenóis”, que melhoram a capacidade de os vasos se dilatarem, podendo reduzir a pressão arterial, diminuem a oxidação das gorduras, com um efeito global benéfico, ou pelo menos sem efeitos negativos. Vários estudos demonstraram que em populações que consomem café regularmente não se pôde comprovar que o café se associe a um risco aumentado de “pressão alta”. Esses estudos concluíram que não se deve recomendar a pacientes hipertensos que deixem de usar a bebida, e ainda que não se deveriam enfocar apenas os efeitos da cafeína, uma vez que a bebida possui outras substâncias com propriedades que podem ser benéficas, tais como os polifenóis, que são antioxidantes, as fibras solúveis e o potássio.

    O chá verde possui cerca de 30% de sua composição sólida de polifenóis, com propriedades antioxidantes e ações na circulação que podem se associar à redução do risco das doenças cardiovasculares. Esses flavonoides causam dilatação das artérias e redução da pressão arterial quando usados em experimentos com animais e mesmo em humanos. Os polifenóis do chá verde promovem dilatação das artérias, impedem a formação de coágulos, diminuem a inflamação e melhoram a sobrevida das células que revestem os vasos sanguíneos. Por esses efeitos, seu consumo pode reduzir os níveis da pressão arterial e o risco de doenças cardiovasculares. Também é descrito que melhora o metabolismo do açúcar em indivíduos com diabetes. O chá verde faz parte da alimentação de populações orientais, como os japoneses, nos quais foi associado à menor mortalidade por doenças do coração, apesar do grande consumo de sal e do grande número de pessoas com pressão alta naquele país.

    Maria Cristina de Oliveira Izar

    Professora afiliada da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp – São Paulo

  • Hipertensão e diabetes, uma associação frequente

    Quem não tem entre os seus familiares pelo menos um caso de diabetes que também necessite tomar medicação para pressão alta? Os dados estatísticos refletem as tendências que o nosso senso de observação já vem registrando como experiência do cotidiano. Estima-se que 2 em cada 3 diabéticos tenham pressão alta. Sabemos que a hipertensão aumenta o risco de ataque cardíaco, derrame, problemas visuais e doença dos rins. No diabético, esse risco aumenta ainda mais. Portanto, checar a pressão sanguínea regularmente e cuidar para que suas medidas estejam dentro das metas de proteção pode prevenir ou retardar o aparecimento de complicações nos vasos do diabético.

    A medida da pressão arterial resulta em dois números: o maior, conhecido como pressão “máxima”, que é a pressão produzida pelos batimentos do coração impulsionando o sangue para os vasos, e o menor, ou “mínima”, que é a pressão nas artérias quando esses vasos relaxam entre cada batimento cardíaco. Hipertensão é um problema de saúde que só melhora com tratamento contínuo e atencioso. Devido ao risco cardiovascular, no diabético, a pressão sanguínea tem que estar abaixo de 13 por 8. Como na imensa maioria dos casos a pressão alta não traz sintomas, é importante que o diabético tenha a medida de pressão frequentemente checada.

    O tratamento inclui mudanças no estilo de vida e medicamentos. Como cada indivíduo tem suas próprias características, é importante que pacientes e médicos possam juntos buscar a melhor maneira de tratamento. Alimentação mais saudável, incluindo frutas e vegetais menos calóricos, laticínios com baixo teor de gordura, carnes magras, muito pouco sal e evitar frituras ajudarão no controle tanto da pressão quanto do diabetes. Controlar o peso e fazer atividades físicas também são recomendáveis. Quanto aos medicamentos, sugerimos ao leitor que procure o seu médico assistente, pois são várias as possibilidades terapêuticas adequadas e eficazes.

    David P. Brasil

    Professor da disciplina de Semiologia Médica e da Pós-Graduação em Cardiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e Coordenador do Centro de Investigação Cardiovascular Prof. José Haddad do Hospital Universitário São José (CIC-HUSJ), Belo Horizonte, MG

  • Por que a hipertensão causa infartos?

    A pressão alta é uma alteração na circulação que ocorre quando já temos outras alterações nos vasos sanguíneos, como uma maior rigidez destes e certo grau de lesão nas células que revestem os vasos, aumentando o risco de formação de coágulos que entopem as artérias, causando infartos.

    Pessoas com pressão alta geralmente possuem outras condições de risco, são obesas, bebem em excesso, são mais sedentárias e muitas vezes têm diabetes ou pré-diabetes. Além disso, é comum a presença de alterações do colesterol, principalmente um nível mais baixo do bom colesterol (HDL-colesterol) e aumento do colesterol ruim (LDL-colesterol).

    Por todos esses motivos, as pessoas com pressão alta têm mais propensão aos infartos. Além disso, todos esses fatores determinam uma maior aceleração da aterosclerose (deposição de gordura na parede dos vasos). A aterosclerose causa inflamação nos vasos e predispõe a um maior risco de formação de coágulos nesses locais.

    Assim, quando uma pessoa recebe a notícia de que tem pressão alta, as chances para um ataque cardíaco são maiores e a necessidade de tratamento rigoroso da pressão se impõe. Esse tratamento é tanto mais abrangente quanto maior o risco de infarto; este último também será maior quanto maior o número de alterações presentes.

    Mesmo para aqueles que não têm outros fatores de risco associados, a própria idade constitui um importante fator de risco. De fato, à medida que envelhecemos, diminuem nossas defesas para um ataque cardíaco; em vários estudos se comprovou a necessidade de tratamento da pressão alta, mesmo em indivíduos com idade avançada.

    Francisco Antonio Helfenstein Fonseca

    Professor afiliado, livre docente da disciplina de Cardiologia – Universidade Federal de São Paulo

  • O que é hipertensão resistente?

    Uma pessoa tem hipertensão resistente ou refratária quando a sua pressão arterial permanece acima de 14 por 9 (14/9), apesar de seguir completamente as orientações médicas para evitar sal, emagrecer, fazer atividades físicas e de tomar ao menos 3 tipos diferentes de remédios para baixar a pressão. Também quem tem que tomar 4 ou mais tipos de medicamentos anti-hipertensivos para conseguir controlar a pressão é chamado de “hipertenso resistente”. Para os pacientes diabéticos ou que têm o funcionamento dos rins diminuído, a pressão considerada normal tem que ser menor que 13 por 8 (13/8).

    As causas que mais contribuem para que alguém tenha hipertensão resistente são: obesidade, excesso de sal na comida, idade maior que 55 anos, diabetes, abuso de bebidas alcoólicas e colesterol alto no sangue. Pacientes obesos que roncam muito e têm pausas na respiração durante o sono também podem ter hipertensão resistente.

    Para ter certeza do diagnóstico de hipertensão resistente, é necessário que as medidas de pressão sejam feitas corretamente, a chamada “hipertensão do avental branco” (quando a pressão está alta nas visitas ao médico e é normal em casa) seja descartada e que os remédios anti-hipertensivos estejam sendo tomados todos os dias, nas doses e horários prescritos. Além do tratamento com medicamentos, o hipertenso resistente deve seguir orientações para reeducação alimentar com dieta com pouco sal, redução do peso, cessação do tabagismo, limitação da ingestão de bebidas e realização de atividades físicas.

    Usando vários medicamentos em doses altas, os hipertensos resistentes podem ter sintomas inesperados, chamados de “efeitos colaterais”. Na maior parte das vezes, isso não deve ser motivo para parar as medicações antes de consultar o médico. Também devem ser discutidas com o médico questões que possam prejudicar o tratamento, como o custo dos medicamentos e o medo de tomar outros remédios junto com o tratamento prescrito e de queda exagerada da pressão.

    Finalmente, sabemos que o benefício do tratamento do hipertenso resistente depende muito mais dele do que da equipe de saúde que o acompanha. Por exemplo, além de seguir corretamente o tratamento com os medicamentos indicados e as orientações gerais feitas, o paciente deve sempre falar a verdade aos profissionais sobre se está ou não fazendo o tratamento como explicado e prescrito. Também, levar, nas consultas médicas, as medidas de pressão anotadas feitas em casa auxilia muito o próprio tratamento.

    Heitor Moreno Júnior

    Cardiologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp – SP, Brasil

    Coordenador do Ambulatório e Laboratório de Farmacologia Cardiovascular e Hipertensão Resistente

  • Qual a utilidade da dosagem do ácido úrico?

    A hiperuricemia sustentada é causada pelo decréscimo no “clearance” renal de uratos, especialmente em pacientes recebendo diuréticos cronicamente e em pacientes com doenças renais primárias que diminuem a taxa de filtração glomerular. O aumento na síntese de purinas pode ocorrer como uma anormalidade primária ou ser causada por um aumento no “turnover” de nucleoproteínas por doenças hematológicas (por exemplo, linfomas, leucemias, anemias hemolíticas) e em condições com aumento nas taxas de proliferação e morte celular (por exemplo, psoríase).

    A razão para aumento na síntese de ácido úrico “de novo”, na maioria dos casos, é desconhecida, mas em uma minoria é atribuível a uma deficiência de uma substância chamada guanina hipoxantina fosforribosiltransferase (associada a cálculos renais).

    O aumento de ácido úrico também pode acompanhar o consumo de alimentos ricos em purina (carne) e de álcool.

    A presença de níveis elevados de ácido úrico é considerada como marcador de risco independente para doenças cardiovasculares e ocorre ao redor de 25% dos pacientes hipertensos. Em razão disso, a dosagem de ácido úrico já faz parte da avaliação inicial dos pacientes hipertensos de acordo com as diretrizes brasileiras, americanas e europeias.

    Professor Doutor José Carlos Aidar Ayoub

    Professor adjunto de Cardiologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – SP

    Cardiologista do Instituto de Moléstias Cardiovasculares de São José do Rio Preto – SP

  • O tabagismo contribui para aumento da pressão?

    Nos últimos anos, o reconhecimento dos chamados fatores de risco cardiovascular, tais como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia (aumento do colesterol), diabetes, obesidade e sedentarismo, tem auxiliado na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento das doenças cardiovasculares. Particularmente, a relação entre tabagismo e aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares, tais como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (derrame) e aneurisma de aorta abdominal, é conhecida há bastante tempo. Sabe-se ainda que o risco para doença cardiovascular entre fumantes se relaciona com o número de cigarros consumidos por dia e a idade de início do hábito de fumar, sendo maior quanto mais precocemente o hábito começa. Essa relação parece ser maior em mulheres que fumam mais de 15 cigarros por dia do que em homens.

    Em estudos que correlacionam tabagismo à hipertensão arterial, os resultados demonstram que os valores de pressão sistólica (máxima) em fumantes são significativamente maiores que em hipertensos não fumantes, principalmente no período matutino, revelando assim o importante efeito hipertensivo do tabagismo. A nicotina absorvida durante a inalação da fumaça do cigarro é o principal elemento envolvido no aumento da pressão arterial, por ser extremamente prejudicial ao sistema cardiovascular, pois estimula a liberação de adrenalina e noradrenalina, substâncias que provocam o aumento da frequência de batimentos cardíacos e da pressão sanguínea, aumentando também a necessidade de oxigênio e dificultando a passagem do sangue.

    Podemos afirmar categoricamente que tabagismo aumenta a pressão arterial; portanto, os hipertensos que fumam devem ser exaustivamente estimulados a abandonar esse hábito. O departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia preconiza entre as medidas não medicamentosas do tratamento anti-hipertensivo a cessação do hábito de fumar como alvo incontestável a ser alcançado.

    Juan Carlos Yugar Toledo

    Cardiologista CRM – SP 40354

    Clínica de Hipertensão Arterial – Ambulatório de Hipertensão Resistente / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (Famerp)

  • Por que a hipertensão pode levar à morte súbita?

    A hipertensão arterial sistêmica é uma doença crônica que acomete os vasos arteriais do organismo, tornando-os mais rígidos. Essa alteração aumenta a resistência ao trabalho do coração, que é de contrair-se para promover a adequada distribuição do sangue e seus nutrientes aos diversos órgãos do corpo humano.

    Ao se opor à contração cardíaca, esse aumento da resistência arterial provoca alterações na anatomia do coração, notadamente a hipertrofia miocárdica, isto é, o aumento da espessura do músculo cardíaco, marca registrada da hipertensão arterial sistêmica crônica não controlada. Um músculo cardíaco mais espesso precisará de mais energia para realizar sua função de bomba propulsora do sangue ao organismo. Essa necessidade aumentada de energia precisa ser compensada pelas artérias que irrigam o coração – as artérias coronarianas. Acontece que nem sempre o fluxo de sangue através das artérias coronarianas é capaz de suprir satisfatoriamente um músculo cardíaco hipertrofiado. E, para piorar, a hipertensão arterial também aumenta o risco de ocorrer uma obstrução nas artérias coronarianas, levando a mais isquemia ou mesmo infarto. De fato, quanto maior a hipertrofia miocárdica, maior a chance de ocorrer isquemia miocárdica, que nada mais é que a diminuição do fluxo sanguíneo ao músculo do coração. Assim, a isquemia miocárdica, ou o seu grau extremo, o infarto, leva ao sofrimento do músculo cardíaco, o qual, nessa situação, libera algumas substâncias que podem levar à completa desorganização dos batimentos cardíacos, conhecida por arritmia cardíaca.

    Entre as arritmias cardíacas, a fibrilação ventricular, a mais grave delas, é sinônimo de parada do coração, pois nessa situação o músculo cardíaco não se contrai efetivamente, não permitindo o mínimo bombeamento do sangue para circular nos tecidos, ocasionando a morte do indivíduo.

    A fibrilação ventricular é o mecanismo mais comum de morte súbita cardíaca, situação definida como a morte inesperada, de causa cardíaca. Pacientes portadores de HAS têm incidência aumentada de morte súbita cardíaca, e um dos principais mecanismos envolvidos é a presença de hipertrofia miocárdica e suas consequências já descritas. A melhor maneira de prevenir a morte súbita nesses pacientes é o rígido controle da pressão arterial, segundo as orientações do seu cardiologista. Daí mais um motivo muito importante para a gente ser 12 por 8.

    Kleber Ponzi

    Médico Cardiologista – Eletrofisiologista

    Belém – PA

  • Quais os alimentos ricos em sódio (sal)?

    A hipertensão arterial sistêmica é uma doença crônica que acomete os vasos arteriais do organismo, tornando-os mais rígidos. Essa alteração aumenta a resistência ao trabalho do coração, que é de contrair-se para promover a adequada distribuição do sangue e seus nutrientes aos diversos órgãos do corpo humano.

    Desde os primórdios da civilização o sal tem tido uma importância fundamental. Era utilizado essencialmente na conservação dos alimentos, hábito que persiste até os dias de hoje, na conservação de peixes e carnes.

    Com o passar dos tempos o sal foi agregado à alimentação para ressaltar o sabor dos alimentos; basta lembrar o sabor de um churrasco com sal grosso e aquele feito sem sal, que diferença! E o sal nas saladas torna-as deliciosas, mas um perigo.

    Os alimentos, de modo geral, têm sal em si, e os de origem animal são mais ricos que os de origem vegetal; a crença de que acrescentar sal a eles vá aumentar seu sabor é ilusão: esse hábito só acentua o salgado ao sabor dos alimentos.

    O ideal de consumo de sal para nós humanos está entre 1,8 g e 2,3 g ao dia. Isso é importante porque o sal retém líquidos, mantendo assim nossos níveis de pressão arterial. As coisas se complicam quando esse sal da nossa dieta vem em quantidade maior ou exagerada, há um excesso de água no nosso organismo e consequentemente aumento da pressão arterial.

    A forma mais inteligente é manter o conteúdo de sal natural de cada alimento sem ter que acrescentar mais; logo, devemos ter sempre em mente quais são os alimentos ricos em sal e evitá-los.

    Os alimentos mais ricos em sal que frequentam nossas mesas são:

    • temperos industrializados, como ketchup, mostarda, shoyu;
    • caldos concentrados, molhos prontos;
    • embutidos, como salsichas, linguiça, mortadela, paio, presunto e salame;
    • conservas, como picles, azeitonas, aspargos, palmitos em vidros ou latas;
    • enlatados, como molhos de tomate, carnes, peixes ou ainda milho e ervilhas;
    • carnes salgadas, como bacalhau, charque, carne seca ou defumados;
    • aditivos conservantes, como o glutamato monossódico;
    • queijos em geral.

    Sabendo dessas dicas não há como não ter uma alimentação saudável.

    Luigi Brollo

    Assistente Doutor da disciplina de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina / Unifesp

  • Quando suspeitar de hipertensão secundária?

    Em cerca de 90% dos hipertensos a causa não pode ser especificada e, por isso, é chamada de hipertensão primária. Em 10% dos hipertensos a causa está relacionada a um só fator que, muitas vezes, pode ser removido e a hipertensão curada. São as chamadas hipertensões secundárias a fatores hormonais, renais, circulatórios, ventilatórios etc. Os rins podem determinar uma hipertensão por glomerulonefrites (inflamações), múltiplos cistos que dificultam a filtração, estenoses (entupimentos) nas artérias renais, infecções repetidas por refluxo urinário e a própria insuficiência renal. Glândulas, como a supra-renal ou adrenal, podem ter doenças que elevam a pressão: o aldosteronismo (excesso de produção de aldosterona), o feocromocitoma (excesso de catecolaminas), síndrome de Cushing (aumento de cortisol), entre outras disfunções. Alterações da função da tireoide também podem alterar a pressão. Tumores endócrinos podem produzir doenças como a acromegalia, Cushing central ou ectópico que cursam com elevação pressórica. Alterações circulatórias, como a coarctação da aorta e vasculites, assim como distúrbios respiratórios (apneia do sono), são também causas de hipertensão. Alguns medicamentos, o abuso do álcool e uso de drogas ilícitas podem levar à hipertensão.

    Indícios que alertam para uma causa secundária são: hipertensão resistente e de difícil controle, hipertensão em crianças e jovens, hipertensão de aparecimento tardio (após os 60 anos), alterações metabólicas (potássio, hormônios, má função renal etc.), aparecimento de sinais externos de doenças das glândulas (obesidade, manchas, estrias, pelos, cãibras, crises de taquicardia associadas à hipertensão etc.), roncos e apneias no sono, além de sinais detectados ao exame médico (ausência de pulsos nas extremidades, massas palpáveis etc.). Em muitos desses casos, há a necessidade de uma avaliação médica especializada em centros de referência em hipertensão.

    Marcus Vinícius Bolívar Malachias

    Médico cardiologista e doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diretor clínico do Instituto de Hipertensão de Minas Gerais e presidente do departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2010-11)

  • Por que a hipertensão causa envelhecimento precoce?

    O nosso coração é como se fosse uma bomba de água que tem que trabalhar com uma força adequada para gerar uma pressão também adequada.

    Se a bomba trabalhar forçada gerará uma pressão inadequada e precocemente se deteriorará levando também a deterioração de toda a canalização.

    A nossa bomba que é o coração depende de vários fatores para funcionar adequadamente para manter um fluxo de sangue com uma pressão adequada para todo o nosso organismo. Pois se assim não for, também precocemente se deteriorará e consequentemente todo o sistema arterial o qual supre o nosso organismo desde o cérebro até as extremidades dos membros inferiores. Ocorrendo, portanto alterações precoces no cérebro como os derrames, nos olhos como cegueira, no coração levando ao infarto, angina, arritmias, no rim levando a insuficiência renal e nos membros inferiores levando a alterações circulatórias.

    Portanto pressão arterial 12 por 8, durante a vida é um objetivo que todos os hipertensos devem atingir para que o envelhecimento precoce não ocorra.

    Margareth Assad Cavalcante

    Professora da Disciplina de Cardiologia da Unioeste

    Mestre em Cardiologia pela Unifesp

  • Por que a hipertensão causa alterações na visão?

    A hipertensão arterial ou pressão alta agride preferencialmente as artérias do nosso organismo, tendo como alvo principal o revestimento interno delas, chamado de endotélio.

    Os nossos olhos são alimentados por artérias, que também possuem esse revestimento, o endotélio, e, como tal, sofrem com as elevações sustentadas da pressão arterial.

    As alterações vasculares causadas pela hipertensão arterial no olho dependem da rapidez de sua instalação, tempo e duração da doença e da idade do paciente. Ao contrário dos outros órgãos, a realização de um exame oftalmológico da retina permite que o especialista observe esses vasos ao vivo, determinando a gravidade da doença. Esse é o chamado exame do fundo de olho, que é não invasivo, é totalmente indolor e de fácil realização, por aqueles que têm experiência com ele.

    Classificamos as alterações vasculares da retina decorrentes da hipertensão arterial como arterioescleróticas ou hipertensivas, agudas ou crônicas. Tais alterações são basicamente decorrentes da vasoconstrição e modificações estruturais dos vasos mais finos.

    As alterações arterioescleróticas ocorrem de maneira lenta e gradual, geralmente ao longo dos anos. No exame de fundo de olho o médico observa: mudança no reflexo arteriolar (chamadas artérias em 'fio de cobre' ou 'fio de prata'), cruzamentos patológicos artério-venosos, dilatação e tortuosidade dos vasos, e outros.

    As alterações classificadas como hipertensivas estão relacionadas a modificações mais agudas, que podem surgir com certa rapidez, sendo causadas, em geral, pela descompensação do quadro. No exame oftalmológico o médico observa alterações como: espasmo ou estreitamento arteriolar, manchas algodonosas, hemorragias superficiais ou profundas e edema de papila.

    Uma das causas de baixa de visão nos pacientes com hipertensão arterial é decorrente do acometimento da mácula, por microssangramentos ou edema (inchaço). A mácula é região da retina responsável pela visão de detalhes. É importante lembrar que essas alterações (sangramento e edema) não são observadas do lado de fora do olho do paciente, apenas pelo exame de fundo de olho.

    Na avaliação inicial o cardiologista deve fazer o exame de fundo de olho e, caso perceba alguma irregularidade, deve encaminhar esse paciente ao oftalmologista, que irá seguir esse paciente em visitas anuais ou mais amiúde, conforme a gravidade do caso.

    Antonio Mendes Neto

    Especialista em Cardiologia pela SBC

    Coordenador da região centro da Sociedade Latino-americana de Aterosclerose (Solat)

  • Qual a relação do álcool com a hipertensão arterial?

    Historicamente a associação entre álcool e hipertensão data de 1915, quando se verificou uma prevalência aumentada desta última entre soldados franceses que ingeriam dois litros de vinho por dia. Inúmeros estudos realizados demonstram a correlação entre a quantidade de álcool ingerida e a hipertensão arterial, independente da idade, raça, sexo, atividade física e ingestão de sal. Não importa o tipo de bebida, e sim a quantidade de álcool ingerida. A graduação de álcool é feita da seguinte forma:

    • abstinência total: menos de doze doses em toda a vida;
    • abstinência parcial: menos de doze doses no último ano, porém mais de doze doses em toda a vida;
    • consumidor infrequente: até duas vezes na semana:
    • leve: uma a duas doses por dia;
    • moderado: três a quatro doses por dia;
    • pesado: cinco ou mais doses por dia;
    • consumidor regular: bebe mais que duas vezes por semana:
    • leve: uma a duas doses por dia;
    • moderado: três a quatro doses por dia;
    • pesado: cinco ou mais doses por dia.

    O nível da pressão arterial se eleva a partir de duas doses por dia, reduzindo-se nos pacientes hipertensos alcoólicos que entram em abstinência, sendo então recomendada pela sua importante relevância clínica. O máximo permitido para o sexo masculino é de 30 gramas de etanol por dia, que equivalem a 720 ml de cerveja, 240 ml de vinho e 60 ml de bebida destilada; para o sexo feminino, metade dessa quantidade.

    A adoção de um estilo de vida saudável é fundamental no combate à hipertensão e também para a sua prevenção primária. Dentro das variáveis de estilo de vida envolvidas, o excesso de consumo de álcool é um dos fatores relacionados com o desenvolvimento da hipertensão e também com a falta de seu controle. Existe uma relação entre consumo de álcool e nível da pressão arterial; frequentemente, ao lado da ingestão excessiva de sal e da obesidade, o consumo excessivo de álcool está associado a um não controle da pressão arterial, tornando-se motivo de uma hipertensão arterial resistente.

    Oswaldo Passarelli Júnior

    Médico da Seção de Hipertensão Arterial

    Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

  • Como adotar uma dieta adequada para o controle da hipertensão?

    Vou apresentar a vocês um modo importante de manter a pressão arterial controlada, por meio de dieta adequada.

    Primeiro de tudo, não se trata de uma dieta; esse nome parece um castigo. Dieta é alguma coisa que a gente faz e depois abandona. Vamos pensar numa alimentação saudável. Assim fica mais fácil fazer qualquer tipo de comentário ou aconselhamento. A alimentação adequada para quem apresenta pressão alta tem algumas regras que são fundamentais. Primeiro de tudo, o sal deve ser usado em pequena quantidade, ou seja, a comida não pode ser salgada. Uma boa maneira de conseguir isso é: 1) preparar a comida com pouco sal; 2) nunca levar o saleiro para a mesa e nunca acrescentar sal aos alimentos prontos; 3) preferir preparar a comida com alimentos naturais; 4) evitar os alimentos industrializados (que vêm em latas ou vidros), os embutidos, os frios, charques, carnes secas; 5) ter muito cuidado com a quantidade de sal que está contida nos alimentos e evitar aqueles que tenham muito sal na sua preparação.

    Outro ponto que depende da alimentação e que ajuda muito no controle da hipertensão é o peso. Ele deve ser adequado para a altura de cada um. Todos devem conhecer qual é o seu peso ideal e buscar sempre se manter dentro dessa medida. Nos dias de hoje, mais pessoas estão com o peso acima do normal, o que dificulta o controle da pressão. Para um bom controle do peso é preciso comer alimentos com menos calorias, em menor quantidade, e sempre fazer um balanço entre o que se come e quanta energia se consome. Os alimentos mais calóricos (que mais engordam) são as gorduras, os hidratos de carbono (açúcares e massas) e o álcool. Assim, comer menos gordura, menos açúcar e massas e ingerir menos bebida alcoólica ajuda a manter o peso correto. Para completar, é necessário gastar um pouco mais de energia, o que é feito com algum tipo de atividade física, que também ajuda muito.

    Na verdade, todas as pessoas deveriam ter uma vida saudável. Ninguém devia esperar alguma doença para começar a ter hábitos de vida corretos. Isso significa manter o peso certo, ter atividade física regular, não fumar, ingerir bebidas alcoólicas em pequena quantidade e ter bons momentos de lazer. Vale a pena começar hoje mesmo; o futuro vai ser bem melhor.

    Paulo César B. Veiga Jardim

    Liga de Hipertensão da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.

  • Quais as indicações da medida residencial da pressão arterial (MRPA)?

    Quando o médico, no consultório, mede a sua PA e informa: “é normal!”, você tem bons motivos para se alegrar. A recíproca é verdadeira: quando ele diz que a PA “está alta”, é justificável a preocupação que tal informação pode despertar em você. Certo? Em termos.

    A PA “normal” no consultório pode estar alta “em casa”. A PA “alta” no consultório pode estar “normal” em casa. A primeira hipótese corresponde ao que os médicos chamam de hipertensão mascarada e a outra, à hipertensão do avental ou do jaleco branco. Qual a única maneira de identificá-las? Comparando as cifras pressóricas medidas em ambos os ambientes (consultório e residência).

    O exame conhecido pela sigla MRPA já está padronizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e consta da medida da PA pelo próprio paciente ou outra pessoa com aparelhos eletrônicos confiáveis, de fácil manuseio. São recomendadas 6 medidas por dia, 3 pela manhã e 3 à noite, durante 5 dias. As cifras pressóricas e os respectivos horários em que foram aferidas ficam registrados na “memória” dos aparelhos, mas podem, também, ser anotadas por você (dia, hora, número da pressão máxima, número da mínima e número do pulso). A finalidade da MRPA é auxiliar o médico a diagnosticar corretamente se a PA encontra-se dentro das variações da normalidade ou se há desvios que configuram a hipertensão arterial. Outra indicação muito útil dessa ferramenta é avaliar se os medicamentos que um hipertenso está usando estão agindo eficazmente.

    Quando a Medicina não dispunha de meios para medir a PA fora do consultório, pessoas com a hipertensão do jaleco branco (“falsa”) tomavam remédios de que não estavam necessitando e as com hipertensão mascarada (“verdadeira”) eram privadas do adequado tratamento. Então, se seu médico solicitar a MRPA, tenha uma atitude proativa de colaboração e siga à risca as recomendações, que serão a garantia da boa qualidade das informações coletadas. Mas, cuidado: durante o período de coleta dos dados (5 dias), resista à tentação de alterar as doses dos remédios eventualmente em uso, em função das cifras que estejam sendo registradas. Essa será uma tarefa do seu médico, se for o caso, no momento oportuno.

    Paulo Toscano

    Membro do DHA/SBC

    Prof. titular da Universidade do Estado do Pará (UEPA)

    Ex-reitor da UEPA

  • Por que a hipertensão causa insuficiência renal?

    Os rins mantêm a saúde removendo escórias e excesso de líquidos, entre eles sal e água do organismo. Para essa função, regulam outros elementos químicos como sódio, potássio, fósforo e cálcio; removem drogas e toxinas introduzidas no nosso corpo; liberam hormônios na corrente sanguínea que regulam a pressão arterial; fazem glóbulos vermelhos e tornam nossos ossos fortes. Cada rim tem aproximadamente um milhão de pequenas unidades filtrantes, os nefrons. A perda progressiva de nefrons leva à insuficiência renal crônica terminal, havendo a necessidade de tratamento de substituição da função renal por meio da diálise ou transplante renal. Atualmente, dois terços dos pacientes em diálise são devidos à hipertensão arterial ou diabetes.

    A hipertensão ocorre quando a pressão do sangue contra a parede dos vasos aumenta. Valores acima de 120∕80 mmHg já podem causar problemas em longo prazo, mas definem-se como hipertensão valores que ultrapassam 140∕90 mmHg. A hipertensão reduz o suprimento de sangue para órgãos importantes como os rins. Níveis pressóricos elevados danificam os nefrons que interrompem a eliminação de escórias e excesso de sal e água do organismo. O acúmulo mantém o circulo vicioso e piora a hipertensão.

    Outra causa de hipertensão seria pelo desequilíbrio das forças que causam constrição e dilatação dos vasos. Os rins regulam a pressão arterial, produzindo substâncias que irão causar vasoconstrição, como a renina, ou vasodilatação, como a medulipina. O desbalanço desses fatores, com predominância da renina ou falta da medulipina, causa hipertensão, que afetará os rins, que, assim, podem ser vilão ou algoz na evolução da insuficiência renal crônica.

    São fatores agravantes que aceleram o processo de deterioração renal pela hipertensão: intensidade de perda renal de proteínas, tabagismo, alterações no colesterol e triglicérides, excesso de sal e proteínas na dieta, anti-inflamatórios etc. Esses fatores são passíveis de ser controlados ou evitados.

    O controle da pressão arterial em níveis abaixo de 120∕80 mmHg e a prevenção, evitando fatores agravantes, podem impedir ou diminuir a progressão da doença renal causada pela hipertensão arterial.

    Roberto Franco

    Professor adjunto-livre docente da Faculdade de Medicina de Botucatu

    Chefe do Centro de Hipertensão Arterial FM – Botucatu

    Membro do Conselho Científico da Sociedade Brasileira de Hipertensão

  • Os idosos, mesmo com mais de 80 anos de idade, devem tratar a hipertensão?

    Com o avanço da idade, ocorre um aumento progressivo na frequência de hipertensão arterial (ou pressão alta); após os 80 anos a maioria das pessoas possui pressão acima do limite normal.

    A pressão alta aumenta o risco de complicações cardiovasculares graves, em todas as idades. Os estudos demonstram claramente que isso ocorre inclusive naqueles com mais de 80 anos de idade. Entre as complicações que podem ocorrer estão o derrame (ou AVC), o ataque cardíaco (infarto do miocárdio), a insuficiência renal, a insuficiência cardíaca, o aneurisma da aorta, entre outras. Esses problemas podem levar a graves sequelas ou até mesmo à morte.

    Entre os idosos, tanto homens como mulheres, a principal causa de óbito são as doenças cardiovasculares, e a hipertensão participa direta ou indiretamente de grande parte desses óbitos. Isso por si só não significaria que tratar a pressão alta levaria à redução de risco na mesma proporção. São necessários estudos clínicos para documentar claramente os benefícios e riscos do tratamento.

    Para reduzir a pressão arterial nos idosos devem-se utilizar os medicamentos anti-hipertensivos nas situações em que as mudanças de estilo de vida não sejam capazes de atingir o controle ideal. Entre os idosos podem existir variações na forma de tratamento e nos medicamentos utilizados, devido à grande variabilidade individual. A presença frequente de outras doenças com a utilização de vários outros medicamentos torna necessária a individualização do tratamento.

    Em indivíduos com menos de 80 anos já estavam comprovados os benefícios do tratamento da pressão alta com a utilização de medicamentos. Porém, apenas recentemente foram dirimidas as dúvidas que existiam quanto ao mesmo tratamento em octogenários. Foi comprovado então que também nesses indivíduos o tratamento é capaz inclusive de reduzir o risco das terríveis complicações associadas à hipertensão arterial.

    Concluindo, o tratamento da pressão alta em indivíduos acima de 80 anos é comprovadamente benéfico, porém deve ser individualizado, levando-se em consideração a condição clínica global do paciente.

    Roberto Dischinger Miranda

    Cardiologista e Geriatra, doutor em Cardiologia, chefe do serviço de Cardiologia da disciplina de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo

  • Por que devo tomar remédios diariamente se a minha pressão está controlada?

    A hipertensão arterial, que chamamos de primária, é uma doença crônica decorrente de diversos aspectos multifatoriais (diversas causas, tais como: ingestão excessiva de sal, obesidade, sedentarismo, abuso de álcool, etc). Portanto, não tem cura, e sim controle. Os pacientes hipertensos que mantêm sua pressão controlada apresentam expectativa de vida quase semelhante aos não hipertensos. Por isso é necessário tomar os medicamentos pelo resto da vida. Existem algumas exceções, como, por exemplo, a mudança do estilo de vida de forma expressiva durante um tratamento medicamentoso pode levar o paciente a ficar normotenso. Um exemplo dessa situação é o obeso hipertenso que, com dieta e exercícios ou até mesmo com cirurgia bariátrica, volta ao peso normal e a pressão arterial em alguns casos normaliza. Entretanto, são situações infrequentes, e o hipertenso necessita de medicamentos pelo resto da vida. Existem diversos medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial, e o efeito anti-hipertensivo é de duração variável. Alguns agem por um período de 6 horas, outros por 12 ou 24 horas. Esse aspecto do tempo de ação é importante, pois, se o paciente estiver utilizando um anti-hipertensivo com duração de 6 horas, necessitará tomá-lo 4 vezes ao dia.

    Entretanto, existe um tipo de hipertensão arterial com a causa bem definida, que nós chamamos de hipertensão secundária. São casos em que o paciente tem estenose das artérias renais, algum tipo de lesão dos rins, funcionamento anormal das glândulas adrenais ou da tiroide etc. Em diversas situações o tratamento dessa causa secundária pode levar o paciente à normotensão e não mais precisar de medicamentos. Entretanto, essas causas secundárias podem com o tempo desencadear lesões renais ou vasculares e, apesar de algum tipo de benefício com o tratamento, o paciente pode permanecer com os níveis pressóricos ainda um pouco elevados; dessa forma, vai continuar necessitando da medicação, mesmo que em baixas doses.

    Rui Póvoa

    Professor da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo

    Chefe do setor de Cardiopatia Hipertensiva da Universidade Federal de São Paulo

  • Uma vez hipertenso, sempre hipertenso?

    A hipertensão arterial é uma doença crônica, que dura a vida toda, cuja persistência ao longo dos anos pode causar complicações em órgãos importantes, como coração, cérebro e rins. Se não tratada de forma contínua, reduz e compromete os anos de vida.

    As causas da hipertensão são de ordem genética e ambiental. A hipertensão pode ocorrer em qualquer pessoa, mas quem tem pai, mãe ou ambos com pressão alta, tem maior chance de adquirir a doença. Já os fatores ambientais resultam de hábitos de vida inadequados, entre os quais o consumo excessivo de sal, álcool, o estresse, a obesidade e a inatividade física.

    O risco de se tornar hipertenso aumenta com a idade. Com o passar dos anos, o envelhecimento e o endurecimento das artérias (aterosclerose) aumentam a chance de surgir hipertensão. Após os 55 anos, mesmo as pessoas com pressão normal tem 90% de chances de desenvolver hipertensão.

    Se não tratada de forma contínua e por toda a vida, podem ocorrer acidentes vasculares cerebrais (derrames), doenças como infarto e insuficiência cardíaca (aumento e enfraquecimento da capacidade de o coração bombear o sangue), angina (dor no peito) insuficiência renal (que pode conduzir à hemodiálise), alterações na visão por lesão na retina (que podem causar até cegueira).

    Uma vez feito o diagnóstico de hipertensão, o paciente deverá mudar seu estilo de vida permanentemente, pois a hipertensão não tem cura, mas controle. O tratamento por toda a vida prolonga e melhora a qualidade de vida. O hipertenso deverá medir a pressão regularmente, diminuir a quantidade de sal, ter uma alimentação saudável, praticar atividade física, não fumar, controlar o estresse e tomar medicamentos de forma regular e contínua.

    Uma vez hipertenso, sempre hipertenso? Sim, exceção a raríssimos casos, nos quais a perda de dezenas de quilos de peso, ou a correção de algumas doenças de causa renal ou endócrina, por exemplo, podem diminuir e até normalizar a pressão. Vá ao médico pelo menos uma vez por ano para uma avaliação detalhada, mesmo que não esteja sentindo nada. O controle da hipertensão é possível e está ao alcance de todos, pois uma melhor qualidade de vida se conquista.

    Luiz César Nazário Scala

    Professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso

    Doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo

    Diretor Administrativo do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia

  • Como fazer respiração lenta para o controle da hipertensão?

    A respiração lenta é uma prática que utilizamos intuitivamente para promover uma sensação de calma. Quando um amigo diz para outro que está nervoso: “Calma... Respire fundo e conte até dez!”; ou quando a professora diz para a criança pequena que chora: “Agora cheire a flor e assopre a velinha!”, são expressões e formas de induzir um ritmo respiratório lento que, esperamos, ajude a acalmar a quem precisa.

    A constatação de que a respiração lenta é benéfica é bastante antiga. A ioga, por exemplo, junta exercícios respiratórios lentos e meditação para que se atinja um estado de transcendência. Outras religiões também têm práticas que promovem o mesmo, e os fiéis atestam o bem-estar que isso promove. Pode surgir a dúvida: esse benefício tem bases de ordem psicológica ou mesmo mística? Ou é algo que a ciência consegue explicar?

    Os cientistas não só conseguem explicar a fisiologia desses benefícios como cada vez mais exploram a respiração lenta para vários fins de pesquisa e tratamento. Mas vamos nos ater somente nos efeitos sobre a pressão arterial. A respiração lenta ajuda a abaixar a pressão de várias formas. Melhora a atuação de mecanismos reflexos que ajudam a controlar adequadamente a contração e o relaxamento das artérias; estimula a produção de substâncias que ajudam os vasos a se dilatarem; melhora a oxigenação do sangue, e muito mais. A melhora no controle da pressão alta foi obtida em vários estudos, sendo possível reduzir a medicação anti-hipertensiva ou mesmo suspendê-la em caso de hipertensão leve. Um grande ganho com um método 100% natural e gratuito.

    E como fazer a respiração lenta? É fácil. Determine um horário em que você esteja tranquilo em casa. Sente confortavelmente e tenha um relógio à vista. Respire normalmente durante um minuto e veja quantos ciclos respiratórios (o tempo que dura do início de uma inspiração até o início da outra) você precisou. Por exemplo, nesse tempo você completou 15 ciclos, ou seja, um ciclo a cada 4 segundos. O objetivo é abaixar dos 10 ciclos por minuto (um a cada 6 segundos) e manter esse ritmo durante 15 minutos, uma vez por dia. Você perceberá que a expiração (soltar o ar) dura o dobro da inspiração. Se você respira inflando o peito, saiba que o melhor é fazer respiração abdominal, em que a barriga sobe e desce com o respirar. Tente respirar da maneira mais natural possível, chegando ao seu objetivo no tempo que for necessário. Nas primeiras sessões você ficará com os olhos grudados no relógio. Depois que pegar o ritmo, dá para ler, ver televisão ou ouvir música de olhos fechados enquanto respira lentamente. Tem músicas tranquilas que podem ajudar a manter o ritmo.

    O ideal é, com o tempo, atingir 6 ciclos por minuto (um a cada 10 segundos). Mas não se preocupe em atingir isso. Não se corrige uma vida toda de respiração rápida e superficial de uma hora para outra. Com essa verdadeira reeducação respiratória, você se verá respirando lentamente de forma espontânea além dos 15 minutos diários. Os números menores no aparelho de pressão atestarão que vale a pena o esforço.

    José Marcos Thalenberg

    Especialista em Clínica Médica

    Doutor em Medicina pela Unifesp

    Responsável pelo Serviço de Monitorização da Pressão Arterial – Cardiologia Unifesp

  • Por que a pressão apresenta variação de acordo com o horário do dia? Por que às vezes ela aumenta e em outras diminui?

    A pressão arterial é um parâmetro biológico e, assim, está submetida a amplas variações em todos os momentos do dia, podendo aumentar e reduzir ao longo das 24 horas. A pressão arterial apresenta o chamado “ritmo circadiano”, isto é, ela começa a aumentar durante as primeiras horas da manhã, logo que nos levantamos, chega a um nível maior no início da tarde, começa a cair lentamente ao final do dia e, à noite, quando nos deitamos para dormir, a pressão apresenta uma queda um pouco maior, fenômeno conhecido como “descenso noturno”.

    A pressão arterial adapta-se às necessidades da circulação do sangue em nosso corpo, sofrendo variações de acordo com o horário do dia e de acordo com vários outros fatores, tais como a posição em que nos encontramos (deitado e em pé), o esforço físico, as emoções, as refeições, o tabagismo, o álcool, a temperatura, a distensão da bexiga urinária, a dor e reação de alerta do paciente. Todas essas situações influenciam o valor da pressão arterial e levam-na a apresentar variações importantes, de acordo com o momento de sua aferição.

    Prof. Dr. José Fernando Vilela Martin

    Professor adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (Famerp)

    Coordenador da Clínica de Hipertensão da Famerp

    Doutor em Clínica Médica pela Universidade de São Paulo

  • Existe diferença de pressão entre os dois braços? Por que o médico mede a pressão nos dois braços?

    O que ocorre na maioria das pessoas é uma pequena diferença na pressão arterial quando é medida no braço direito e no braço esquerdo. O achado mais frequente é o da pressão um pouco maior no lado esquerdo, mas o inverso também pode ser encontrado; por esse motivo, o correto é medirmos nos dois lados para definirmos em qual deles os níveis tensionais são mais altos. Uma vez definido isso, as medidas futuras e as metas de um bom controle pressórico deverão se guiar pelo braço cujos níveis são os mais elevados.

    Outra razão para medirmos nos dois braços é que, quando as diferenças forem significativas, podemos estar diante de um problema nos vasos que irrigam essas regiões do nosso corpo; dessa forma estaremos identificando precocemente essa situação.

    Convém ressaltar ainda que, na primeira avaliação do paciente hipertenso, é interessante medirmos a pressão com o paciente deitado, sentado e em pé, pois também podemos observar em algumas situações diferenças de acordo com a posição adotada pelo paciente, o que pode ter implicações, inclusive, na definição das estratégias de tratamento.

    Dr. Weimar Aebba Barroso – CRM 6495 GO

    Professor assistente de Cardiologia – UFGO

    Cardiologista da Liga de Hipertensão – HC/UFGO

    Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia – GO

  • Quais os benefícios do exercício físico para pacientes hipertensos?

    A pressão alta se apresenta no Brasil como um problema de saúde pública, constituindo-se em alvo de preocupação por parte de todos os profissionais da saúde e do governo (presidente, governadores e prefeitos). No País, as doenças cardiovasculares são as que mais matam em relação às outras enfermidades. Na maioria dos casos, a hipertensão arterial funciona como um gatilho ou complicador para elas.

    Atualmente, estão muito bem documentados na literatura científica em todo o mundo os benefícios que os exercícios físicos proporcionam para as pessoas atingidas pela Hipertensão Arterial ou pressão alta.

    A Hipertensão Arterial pode ser ocasionada por diversas formas, sendo elas genéticas ou alterações renais, metabólicas, hormonais e outras.

    Dentre os benefícios que o exercício proporciona ao paciente hipertenso para diminuir a pressão arterial, podemos citar:

    • Melhora a efetividade da circulação do sangue em todo o corpo;
    • Reduz os batimentos cardíacos;
    • Diminui a ansiedade e depressão;
    • Facilita a eliminação do sódio pelos rins;
    • Reduz o peso;
    • Contribui na diminuição do consumo e até mesmo abandono do cigarro e do álcool;
    • Aumenta a força dos músculos em todo o corpo, proporcionando maior disposição para atividades de vida diária;
    • Aumenta o HDL colesterol (colesterol bom);
    • Favorece maior relaxamento dos vasos arteriais e no restante dos músculos do corpo;
    • Melhora a oxigenação nos tecidos do nosso corpo;
    • Melhora o efeito do remédio anti-hipertensivo no seu organismo.

    Podemos observar, de acordo com os itens citados acima, que o exercício físico oferece uma excelente qualidade de vida para as pessoas e reduz a pressão arterial, mas deve ser encarado com seriedade. Para que o exercício físico tenha efetividade é necessário que seja realizado com intensidade moderada, 5 vezes na semana, durante 30 minutos por dia. Vale lembrar que todo exercício físico deve conter INTENSIDADE, DURAÇÃO E FREQUÊNCIA. Ao realizá-los, procurar utilizar roupas leves e tênis confortável.

    Luiz Tadeu Giollo Junior

    Fisioterapeuta – Especialista em Reabilitação Cardiorrespiratória

  • Por que usar dieta hipossódica no tratamento da Hipertensão Arterial?

    A pressão arterial é a pressão que o sangue exerce na parede das artérias; consequentemente, a Hipertensão Arterial é o aumento da pressão que o sangue faz na parede das artérias para se movimentar.

    A Hipertensão Arterial é uma doença multifatorial; dentre seus principais fatores de risco está o consumo exagerado de sal. Nesse caso, tratar a hipertensão envolve, especialmente, a mudança do hábito alimentar. A ingestão elevada de sódio, substância presente no sal de cozinha, tem sido correlacionada com o aumento dos níveis da pressão arterial e seu difícil controle.

    Esse fenômeno é explicado pelo fato de que, quando se ingere uma quantidade excessiva de sal, o organismo retém água, aumentando a quantidade de sangue circulante, o que leva ao aumento do débito cardíaco (que é o volume de sangue bombeado pelo coração em um minuto) e consequente aumento da pressão sanguínea no interior das artérias, resultando na elevação da pressão arterial. Portanto, pessoas hipertensas devem utilizar uma dieta hipossódica (pobre em sódio) para manter a pressão arterial em valores normais.

    A restrição salina promove rápida e importante redução da pressão arterial, além de promover benefícios na diminuição do risco de complicações cardiovasculares e renais. Por isso, a mudança do hábito alimentar é de extrema importância, preconizando-se o consumo máximo de 5 g de sal por dia.

    Alimentos industrializados, como embutidos, conservas, enlatados, defumados, frios, molhos prontos, refrigerantes, devem ser evitados, pois contêm uma grande quantidade de sódio. Também se deve extinguir o hábito de adicionar sal em saladas e outros alimentos temperados à mesa e dar preferência ao uso de alimentos naturais.

    A dieta hipossódica é recomendada tanto para hipertensos quanto para normotensos, pois esse hábito é muito útil no controle e prevenção da Hipertensão Arterial. Esse tipo de alimentação deve ser ensinado às crianças desde cedo, para que cresçam com uma dieta balanceada e uma vida saudável, pois populações que ingerem pouco teor de sódio praticamente não apresentam casos de hipertensão.

    Enfim, mudar o hábito alimentar não é fácil, mas deve ser feito continuamente com ações simples, como tirar o saleiro da mesa, preferir temperos e alimentos naturais e, assim, adaptar seu paladar à dieta hipossódica. Dessa forma, ficam protegidos seu coração, cérebro e rins de eventos indesejáveis que a pressão arterial elevada pode ocasionar.

    Débora Dada Martinéli

    Graduação em Enfermagem pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.

  • Tenho muita dor de cabeça e tontura. Será que minha pressão aumentou?

    A hipertensão arterial, na maior parte da população, apresenta-se sem sintomas. No entanto, dor de cabeça atribuída à elevação da pressão arterial é queixa frequente que motiva atendimento médico e pode não estar relacionada à hipertensão arterial. Outras causas comuns com tensão emocional, doenças da coluna cervical e contraturas musculares podem estar envolvidas. Por outro lado, dor de cabeça e tontura descrita como sensação de desequilíbrio, oscilação, insegurança, distúrbio visual e outro sintoma neurológico associam-se à importante elevação da pressão arterial, podendo caracterizar emergência hipertensiva. Em pacientes sabidamente hipertensos os sintomas “dor de cabeça e tontura” devem ser valorizados, principalmente quando associados a outras queixas, como palpitações, sudorese e palidez, que sugerem uma causa secundária de hipertensão arterial (feocromocitoma) ou coexistência de outras doenças, como o hipertireoidismo.

    Para o correto diagnóstico de hipertensão arterial em paciente com sintomas de dor de cabeça e tontura é necessário que a aferição da pressão arterial satisfaça os requerimentos padronizados pela Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, tais como equipamento adequado e calibrado, manguito de tamanho apropriado para a circunferência do braço do paciente, esvaziar a bexiga, evitar ingestão de bebidas contendo cafeína, inalação da fumaça do tabaco e exercício extenuante 1 hora antes da aferição. A aferição da pressão arterial deverá ser efetuada após cinco minutos de repouso, sempre com o paciente em posição sentada, deitada e/ou em pé. Quando sentado, o paciente deverá estar em ambiente calmo, com as pernas descruzadas, os pés firmemente apoiados no chão, sem balançar e com as costas apoiadas de forma confortável, e o ponto médio da porção superior do braço na altura do coração. A mensuração deverá ser realizada por duas vezes consecutivas ou mais, sempre com intervalo de dois minutos entre as aferições.

    Prof. Dr. Juan Carlos Yugar Toledo

    Ambulatório de Hipertensão Resistente
    Docente Orientador de Pós-Graduação – Famerp

  • É possível que o profissional de saúde realize a medida da pressão arterial de modo incorreto?

    É possível que a pessoa que mede a pressão arterial use técnica não apropriada ou realize a medida de forma imprecisa. Por isso, devem ser seguidas normas relativas ao posicionamento do paciente, posição do braço, condições locais em que a aferição esteja sendo realizada e a técnica da medida que evitem, ao máximo, leituras incorretas da pressão arterial. Para que a medida da pressão seja considerada um “padrão ouro”, ou seja, para que a aferição garanta a máxima exatidão dos valores corretos da pressão, as normas devem ser sempre seguidas e os profissionais que a executem devem ser treinados da melhor forma possível. Devemos também lembrar que os aparelhos utilizados devem ser calibrados e revisados periodicamente (pelo menos, a cada seis meses) para garantir a expressão verdadeira dos valores obtidos da pressão arterial.

    Prof. Dr. José Fernando Vilela Martin

    Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (Famerp)
    Coordenador da Clínica de Hipertensão da Famerp
    Doutor em Clínica Médica pela Universidade de São Paulo

  • Por que é importante reduzir a quantidade de gordura na alimentação do paciente hipertenso?

    A maior parte das modificações de estilo de vida está relacionada ao controle alimentar. O controle dietético deve ter qualidade e quantidades adequadas para cada pessoa. O controle da pressão arterial por meio de medidas dietéticas específicas melhora os níveis da pressão arterial e também faz com que as pessoas criem hábitos alimentares saudáveis durante toda a vida.

    O excesso de peso é um fator que prejudica a pressão arterial. Estima-se que de 20% a 30% dos pacientes têm pressão alta causada pela obesidade. A gordura localizada na região abdominal está frequentemente associada à elevação da pressão arterial. A redução e o controle do peso se associam ao consumo de calorias e também ao gasto de energia diária. A gordura é o macronutriente mais calórico: 1g de gordura fornece 9 calorias, enquanto os carboidratos e lipídeos fornecem 4 calorias em cada 1g.

    A ingestão de gordura saturada (gordura presente nas carnes, no leite, nas manteigas, óleos de coco e de dendê) é a principal causa da elevação do colesterol no sangue. As dislipidemias (elevação do colesterol e triglicérides no sangue) contribuem para o aumento do risco cardiovascular, levando em consideração que a hipertensão arterial (pressão alta) é um dos mais importantes fatores para o desenvolvimento das doenças do coração.

    As placas de gorduras dão origem ao estreitamento das artérias coronárias, diminuindo o fluxo sanguíneo e causando a doença arterial coronariana. As doenças cardiovasculares lideram os índices de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo. Inúmeras intervenções são realizadas no tratamento da doença arterial coronariana, incluindo agentes farmacológicos, mudança nos hábitos alimentares e exercício físico regular.

    Carolina Neves Cosenso Sacomani

  • Hipertensão, uma doença além das cifras

    A cada ano, cerca de 7,6 milhões de mortes, 14% do total mundial, são atribuídas à hipertensão não controlada. Cerca de 80% dessas mortes ocorrem em países de baixo e médio desenvolvimento econômico e mais da metade em indivíduos entre 45 e 69 anos. No Brasil, a hipertensão afeta mais de 30% dos adultos. Cerca de 315 mil óbitos ocorrem anualmente por doenças cardiovasculares, dos quais mais da metade estão relacionados à hipertensão, com destaque para os derrames e infartos. Além disso, a hipertensão é, em nosso meio, a principal causa de doença renal crônica, que ocasiona mais de 10 mil óbitos anuais no país e a inclusão de 95 mil pessoas em programas de diálise ou filas de transplante.

    A hipertensão é, na maioria de seus portadores, assintomática. Por não apresentar sinais ou sintomas da doença, poucos são os que fazem tratamento regular. Os percentuais de adesão ao tratamento situam-se em torno de 10 a 20% da população brasileira afetada. Levantamentos recentes revelam que, mesmo em consultórios médicos privados, o controle não atinge sequer a metade dos hipertensos ali atendidos e que menos da metade segue o tratamento por mais de um ano. Se não tratada adequadamente, a hipertensão pode reduzir em cerca de 16,5 anos a expectativa de vida. Nos casos não fatais, ressalta-se a perda da qualidade de vida dos sobreviventes de derrames e infartos, quase sempre sequelados.

    Se poucos aderem ao tratamento com remédios, resta uma opção atraente que é adequação do estilo de vida, capaz de controlar um grande percentual de hipertensos sem medicamentos. Mesmo uma modesta perda do peso corporal está associada a reduções na pressão. Além disso, manter o peso normal (índice de massa corporal inferior a 25 Kg/m²) previne em 40% o desenvolvimento de hipertensão. Dietas ricas em frutas, hortaliças, fibras, minerais e laticínios, com baixos teores de gordura, nos estilos DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) e mediterrânea podem operar milagres no controle pressórico. Embora seja de conhecimento geral que o sal eleve a pressão, o seu consumo é cada vez maior em função do crescente consumo de alimentos e temperos industrializados. A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo diário de não mais que 5 g de sal, que corresponde a 2 g de sódio. O consumo médio do brasileiro é de mais que o dobro do recomendado.

    Muitos nutrientes têm revelado propriedades anti-hipertensivas, tais como: alicina (presente no alho, alho poró, cebola e cebolinha), betaglucano (presente na aveia), a substituição de parte da proteína alimentar por um composto de soja ou a troca de gorduras saturadas e alimentos ricos em gordura animal por peixes, oleaginosas (castanhas), azeite de oliva e óleos vegetais. O consumo diário de dois ou mais copos de leite ou porções de laticínios magros correlacionou-se a menor incidência de hipertensão, provavelmente devido ao aporte de cálcio. A vitamina D obtida pelo consumo de peixes e pela exposição ao sol também é uma importante aliada. Os polifenois contidos no chocolate amargo, maça, uva, cebola, café e nos chás preto e verde têm potencias propriedades vasoativas, aumentado a liberação de óxido nítrico, um potente vasodilatador produzido nas artérias.

    Pequenas doses de bebidas alcoólicas, 15 a 30 gramas de etanol, podem fazer parte do cardápio do hipertenso. Essa quantidade corresponde a 2 latas de cerveja, 2 doses de destilados ou 2 taças pequenas de vinho, para homens, utilizados de forma não diária, sendo recomendada a metade dessas quantidades para mulheres.

    A atividade física regular, de pelos menos 30 minutos diários, promove vasodilatação sustentada e eficaz redução da pressão. Técnicas de relaxamento, incluindo yoga, biofeedback e principalmente a respiração lenta têm comprovado significativos efeitos anti-hipertensivos. Finalmente, a correção da apnéia do sono, por meio de equipamentos de auxílio respiratório noturno, reduz a pressão de pessoas com esse distúrbio comum.

    Marcus Vinícius Bolívar Malachias

    Presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia



www.eusou12por8.com.br

Campanha do Departamento de Hipertensão Arterial da SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia.
As personalidades presentes neste material cederam gentilmente suas imagens para a campanha "Eu sou 12 por 8".